quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Violação como Arma de Guerra

Recentemente, tive o privilégio de poder assistir a uma peça de teatro encenada por Isabel Medina, denominada “Monólogos da Vagina”. Foi um espectáculo que tão cedo não esquecerei não só pela sua componente crítica e cómica mas principalmente, pelo seu contributo para o enriquecimento cultural de todos os presentes. Para além de a recomendar vivamente, quer a homens quer a mulheres, esta peça da autoria de Eve Ensler, e representada de forma brilhante por Ana Brito e Cunha, Guida Maria e São José Correia, trouxe-me não só mais conhecimentos acerca do complexo mundo feminino mas também, interessantes e importantes referências em relação ao tema do nosso trabalho. E como não poderia deixar de partilhá-las com vocês, aqui deixo um caso real retratado na peça.

O monólogo de que vos quero falar, remonta para o período de 1991-1995, durante a Guerra da Bósnia, em que entre 20 000 a 40 000 mulheres foram sistematicamente violadas sexualmente. Estas “violações em massa” como são conhecidas, foram realizados no leste da Bósnia maioritariamente pelas forças sérvias no entanto, e por incrível que pareça, também unidades bósnias contribuíram, em menor escala, para este massacre que via o sexo feminino como o principal alvo. Através do visionamento de algumas imagens que levaram ao choque de toda a assistência da peça de teatro, ficámos a saber que as violações sexuais envolviam objectos de tortura tais como, paus, cabos de vassoura, cabos de espingardas e até mesmo, garrafas.

As violações como arma de guerra assentam na desigualdade da relação de força, porque quando o soldado armado e em grupo encara uma mulher, o impulso sexual alia-se ao prazer político do poder absoluto sobre outra pessoa mais fraca.

A violação é, por excelência, o crime de profanação contra o corpo feminino e, através dele, contra toda a promessa de vida da comunidade no seu todo. Este tipo de casos pode ser definido, em termos antropológicos, como uma tentativa de invadir o espaço histórico do outro, num desejo de quebrar a continuidade de determinada espécie ou cultura, neste caso acabar com a hereditariedade bósnia. Em termos simbólicos e para os violadores, a violação sexual era o método mais pertinente de “purificação étnica” e de “limpeza”, por muito revoltante que possa soar.

No final de contas, o crime contra a filiação não quer a morte do inimigo, quer que este não tenha nascido.

E para vermos como a Justiça tarda em chegar, ainda hoje milhares das mulheres que foram violadas nessa altura vêem os responsáveis pelo seu sofrimento fora das grades ou sem uma única punição. Até agora, tem sido negada a justiça às sobreviventes destes crimes, já que as forças militares e os grupos paramilitares a que os violadores pertenciam, permanecem livres de qualquer acusação. Alguns até se mantêm, de acordo com Nicola Duckworth, Director do Programa da Europa e Ásia Central da Amnistia Internacional, em posições de chefia ou vivem na mesma comunidades que as vítimas.

3 comentários:

mr. esgar disse...

muito interessante. espero que continuem a desenvolver o bom trabalho.

Mª João Martins disse...

Com um titulo chamativo como este, era impossível ficar sem dar uma palavrinha. '' Quando os Olhos não Mentem '' humm, este titulo a mim diz-me muito, e vou abordá-lo em relação a um dos vossos pontos, a violação das mulheres, mas eu penso, desde que uma mulher tenha brilho nos olhos, nenhum homem irá reparar se ela tem rugas em volta deles, mas a verdade é uma, no mundo em que vivemos são raras as vezes em que vemos alguma mulher com esse tal brilhozinho nos olhos, as mulheres são frageis em comparação com o sexo masculino, mas se a mulher soubesse que sua força está na sua fragilidade, dominaria o mundo! O desrespeito pelas mulheres tem sido constantemente o sinal mais indicativo da corrupção moral da nossa sociedade de hoje em dia! Não sei dizer se as mulheres sao melhores que os homens porque estaria a ser injusta, mas uma coisa posso garantir piores não sao de certeza. As mulheres são sonhadoras e nós, que seremos as mulheres de amanha teremos de saber que é precisamente a realização de um sonho que torna a vida interessante. Boa sorte com o Projecto!
Jonas

12ºN - GRUPO A disse...

Muito obrigada por todos os comentários que além de valorizarem o Blogue do nosso Grupo, motivam-nos para continuarmos com ainda mais força e empenho por este projecto! Esperamos que continuem a deixar as vossas opiniões, críticas e sugestões, como têm feito, já que muito nos têm ajudado a melhorar e a reflectir sobre o tema...